segunda-feira, 5 de setembro de 2011

9 atitudes que parecem ecológicas, mas nem tanto

O aquecimento global está aí, para qualquer um ver e sentir. No último século, a temperatura mundial subiu 0,7°C. Os cientistas climáticos dizem que vem mais, muito mais por aí.
Antes que você se sinta culpado o suficiente para mudar toda sua vida em prol da natureza (que você irá descobrir que é somente em prol da raça humana), fique atento. Pesquisadores de universidades como Oxford, Chicago e Toronto, de instituições como a Nasa e de consultorias como a britânica Boustead, que analisa o impacto ambiental de produtos há quase 40 anos, mostram que estamos fazendo tudo errado: a energia eólica não vai salvar o mundo, você não precisa comprar só comida produzida na região, as sacolas plásticas não são o grande bicho-papão. Conheça 9 conceitos verdes — e como você realmente poderia ajudar a salvar nossa pele.

1. COMA SÓ ALIMENTOS DA SUA REGIÃO.
Em vez do cultivo local em pequenas propriedades, o futuro da dieta sustentável pode estar no livre comércio da agricultura de larga escala e global. O que se contrapõem a um movimento alimentar que ganhou força na Europa e América do Norte nos últimos anos, o Locavore. Seus adeptos tentam consumir só alimentos da região — os mais radicais limitam a distância a 160 km — para evitar emissões de CO2 com transporte.
Esse preceito desconsidera um fator relevante, a produtividade.  Importar comida de produtores de longe que usam tecnologias eficientes, com baixo gasto energético, seria menos agressivo do que usar alternativas locais, especialmente fora da estação.
Comprar maçãs inglesas no inverno também geraria mais CO2 do que abocanhar as importadas do verão neozelandês, pois o gasto de energia com transporte seria menor do que o para manter as frutas congeladas entre verão e inverno. A ideia é velha: comer alimentos da estação. A novidade é que pode ser da estação do outro lado do mundo. Nada demais para um Globavore (oposto ao locavore).
A dieta sustentável também depende do que você come. Bois e vacas emitem metano — gás com potencial de efeito estufa 23 vezes maior que o CO2 — na flatulência. Por isso, se você quer ser sustentável, coma menos carne. Não que todo mundo precise ser vegetariano. Mas vai fazer uma grande diferença.

2. PROÍBA AS SACOLAS PLÁSTICAS
 Isso pode não resolver o problema. Em cidades em que elas foram banidas dos mercados, como São Francisco, na Califórnia, o que se viu foi um enorme aumento do consumo das sacolas de papel — o que pode não ser tão amigo do meio ambiente. Embora venham de fonte renovável — a celulose das árvores—, estudos sugerem que sua produção seria mais poluente do que a de sacolas plásticas, feitas com derivados de petróleo.
Em uma análise que comparou a emissão de poluentes desde a extração de matéria-prima até a disposição final dos produtos, a consultoria inglesa Boustead concluiu que sacolas de papel com 30% de fibras recicladas emitiriam o dobro de CO2 do que as de polietileno (o plástico usado nas sacolinhas de supermercado). Boa parte da diferença se deve ao uso de água na fabricação, 17 vezes maior do que na produção de sacolas plásticas, e na geração de lixo, que chega a ser quase cinco vezes superior. Precisamos fazer a transição das sacolas que são usadas apenas uma vez para as retornáveis. E não de um tipo de sacola de uso único para outro. Está aí um consenso. Sem dúvida a sacola retornável causa um impacto menor, desde que seja realmente usada várias vezes. Entre a sacola plástica e a de papel, então, prefira a de pano. 

3. A ENERGIA EÓLICA É A MAIS SUSTENTÁVEL
 É sustentável, mas pode não resolver o problema. É fato que os combustíveis fósseis são grandes vilões: respondem por 85% de todas as emissões humanas de CO2. No entanto, pelo menos 67% de toda a energia elétrica produzida no planeta vêm de fontes fósseis, como carvão e gás. Como é impossível imaginar a vida sem eletricidade, os cientistas estão à procura de substitutos. A energia eólica é das mais cotadas. Enquanto o carvão emite de 757 a 1.085 toneladas de CO2 por GWh de eletricidade, a energia do vento libera de 7 a 15 toneladas. Porém é cara e tem baixa densidade energética. Precisa-se de uma área muito grande para produzir uma quantidade pequena de energia. 
Outra desvantagem é o risco de descontinuidade, já que os ventos são irregulares. O melhor é termos um balanço de várias fontes e não depender só de uma.
A energia atômica emite de 3 a 20 toneladas de CO2 por GWh de eletricidade. Mas a principal diferença está na densidade: Com uma pequena área e volume, tem-se uma potência elétrica alta. Por isso, ela poderia substituir o carvão. A China, por exemplo, já está construindo 16 novas usinas nucleares.


4. PRECISAMOS DAS CONFERÊNCIAS CLIMÁTICAS
 Que nada, elas não costumam passar de discussões sem fim. Enquanto líderes mundiais se reuniam em Cancun para a 16ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas em dezembro passado, o site WikiLeaks soltou um documento que desnudou os esforços diplomáticos dos países presentes. Ele revelava que, no encontro anterior, na Dinamarca, Estados Unidos e China juntaram esforços para sabotar qualquer acordo que obrigasse os países a reduzirem suas emissões de CO2. Com os dois maiores poluidores do mundo contra as decisões coletivas, a reunião acabou se resumindo a um desfile de personalidades. Ou seja, se um país discordar de uma proposta, ela não vai adiante. O G20 concentra no mínimo 90% das emissões mundiais. Se ele fizer um acordo, teria uma chance imensa de ser aprovado, referindo ao grupo dos 20 países mais ricos do mundo. 

5. RECICLE, RECICLE, RECICLE
 O mantra parece ter encontrado uma concorrência explosiva. Um relatório da Institution of Mechanical Engineers, organização que reúne engenheiros mecânicos do Reino Unido, de 2008, recomendou ao governo britânico queimar parte dos 300 milhões de toneladas de lixo produzidos por ano no local para gerar energia. Em Viena, na Áustria, na planta industrial de Spittelau, a técnica remove da cidade 263 mil m3 de lixo (suficiente para encher 105 piscinas olímpicas) e os transforma em calor para aquecer 190 mil residências. A queima tem controle de emissão de poluentes na atmosfera e pode gerar, além de calor, energia elétrica e combustível. No final, sobram cinzas, que vão para um aterro.
A incineração não é regra — para vidros e metais seria mais eficiente a reciclagem, índice que chega a 91,5% no caso das latas de alumínio no Brasil. Além disso, essas matérias-primas não têm poder de combustão, ao contrário do papel  e, especialmente, do plástico. Esse último, como bom derivado fóssil, pega fogo rápido. E possibilita o improvável: reaproveitar petróleo. Cerca de 95% de sua extração é para produzir energia e 5% vira plástico. Aproveitar o poder de combustão contido nesses plásticos é usar duas vezes sua matéria-prima: primeiro como um material, depois como energia.

6. COMPRE UM CARRO ELÉTRICO
Manter o que você já tem na garagem pode ser uma opção melhor. A grande defesa do carro elétrico é ele emitir menos CO2 na rodagem por não usar combustíveis fósseis. No entanto, sua fumaça não sai do escapamento, mas das usinas de eletricidade. E aí, a matriz energética do país passa a importar mais que o tipo de carro eleito.
Um estudo feito por Reed Doucette, pesquisador do departamento de engenharia de Oxford, na Inglaterra, compara as emissões de CO2 de carros elétricos e convencionais em países com matrizes energéticas distintas. Na China e Índia, que usam combustíveis fósseis para gerar energia, o desempenho do automóvel movido a eletricidade foi desanimador, chegando em algumas situações a poluir mais do que o carro convencional. A menos que os países descarbonizem suas matrizes energéticas, os carros elétricos vão diminuir muito pouco, em alguns casos até aumentar a emissão de CO2.
Nos países em que a fonte energética é menos poluente,incluindo o Brasil, o elétrico poderia valer a pena. A  França, que tem energia predominantemente limpa, o automóvel elétrico se saiu bem em relação ao concorrente a gasolina. O resultado poderia valer para o Brasil. Ainda assim, há uma alternativa que pode ser mais verde: o carro usado, em bom estado.
A fabricação de um automóvel é altamente poluente. Um elétrico, como o Toyota Prius, feito no Japão (que usa fontes sujas de energia), emite em sua produção a mesma quantidade de CO2 que um carro a gasolina ao longo de 64 mil quilômetros rodados. Então, o melhor pode ser usar um carro em que esse débito já esteja quitado. Se você tiver um automóvel eficiente (digamos 17 km por litro) e não dirigir tanto assim, o melhor seria mantê-lo. Mas não se esqueça de fazer a manutenção.

7. VAMOS COMPRAR E VENDER CRÉDITOS DE CARBONO
 Criar um imposto sobre CO2 pode ser melhor. O mercado de carbono é um mecanismo estabelecido no Protocolo de Kyoto, de 1998. O documento traçou limites máximos para emissão anual de poluentes para os países que o assinaram (quase todos os desenvolvidos, exceto os Estados Unidos e Israel) e esses países impuseram limites de emissão às suas empresas. Se elas os ultrapassarem, podem comprar uma cota de outra empresa, dentro ou fora do país, que tenha conseguido baixar suas emissões comprovadamente. Em 2009, esse comércio movimentou US$ 144 bilhões.
Porém, esse tipo de transação praticamente vende às empresas o direito de poluir. Tem que ser muito fiscalizado, porque pode ser usado para justificar a não-ação. E se o mercado funcionar perfeitamente, só irá abater 5% das emissões. O que é pífio. A criação de um imposto sobre emissão de CO2, o que já foi adotado em países como Suécia, Noruega, Holanda e Finlândia. A taxa incidiria sobre usinas ou refinarias, que passariam parte dos custos aos consumidores. A conta de luz aumentaria. Mas o dinheiro arrecadado com os impostos poderia ser distribuído para a população. O valor seria dividido em partes iguais. Assim, cada cidadão receberia uma média do imposto pago no país. Quem tivesse consumido menos energia e, consequentemente, devido menos imposto, sairia no lucro, já que pagou um valor menor do que o que recebeu depois. Apagar a luz seria um bom negócio. 

8. COMBATER MUDANÇAS CLIMÁTICAS É CARO
 Pode ser barato e vai ter até quem ganhe dinheiro com isso. Os cálculos do IPCC apontam uma diminuição de 3% do PIB mundial até 2030 se investirmos em matrizes energéticas mais limpas, sistemas de transporte público e sobre trilhos, indústrias mais eficientes e reflorestamento. Mas seria o caro que sairia barato. O custo de reduzir emissões é muito menor do que o de nos adaptar às mudanças que virão com o aquecimento global. Os gastos também podem ser encarados como um grande investimento. A economia de baixo carbono é a nova onda do capitalismo. A transição da carruagem para o carro teve um custo para quem produzia carruagem, mas foi lucrativa para a indústria automobilística.
A consultoria americana McKinsey comparou os gastos de cada ação necessária para enfrentar o aquecimento global. Um terço delas daria lucro, como trocar lâmpadas incandescentes por LED. Outro terço são relativamente baratas, como produzir energia nuclear. Só a última parte é de coisas mais caras. Mas aí estamos falando de enterrar carbono debaixo da terra. 

9. O AQUECIMENTO GLOBAL VAI ACABAR COM A TERRA
 Nada disso, quem corre risco de desaparecer é você. Pois a Terra não vai nem sentir cócegas. No passado, a temperatura do planeta já variou mais do que as piores atuais previsões do IPCC — que chegam a um aumento de até 4°C. Na época dos dinossauros, há 100 milhões de anos, o planeta chegou a ser 8°C mais quente do que agora. Ele vai se adaptar ao aquecimento; o problema vai ser para a espécie humana.

 Se a pior hipótese do IPCC se concretizar, pode haver desaparecimento das florestas tropicais, secas nas regiões equatoriais e tempestades monstruosas em várias partes do mundo. A fome seria um dos resultados, levando à desnutrição e mortes. Além de guerras pelas terras ainda férteis. As chuvas trariam alagamento, deslizamentos e furacões. A meningite, relacionada à sequidão, se espalharia ainda mais pela África. A dengue e a malária atingiriam outras regiões do globo — a malária hoje se concentra na zona subsaariana e já mata 781 mil pessoas por ano. Matricule-se já num curso de sobrevivência em situações-limite. Salvar o planeta é coisa do passado, você terá que salvar a si mesmo.


Fonte: Revista Galileu Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

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